O racismo é uma questão muito forte na sociedade brasileira e também os casos de racismo são uma realidade na área da saúde.
Casos recentes de racismos como o do adolescente João Pedro de 14 anos assassinado durante uma operação policial enquanto brincava dentro da casa dos tios, do menino Miguel que morreu após cair de uma altura de 35 metros enquanto estava sob a guarda da patroa de sua mãe, e de George Floyd assassinado por um policial branco nos EUA reacende a chama da brutalidade do racismo por trás das desigualdades. A luta antirracista desencadeada por estes atos violentos é em si um convite a reflexão sobre a nossa participação na construção de uma sociedade mais igualitária.
O racismo é uma questão muito forte na sociedade brasileira e também é uma realidade na área da saúde. Percepções falsas de que mulheres negras têm quadris mais largos, de que são mais fortes e resistentes à dor, foram o start para que a pesquisadora Maria do Carmo Leal, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), doutora em saúde pública, e um grupo de pesquisadores desta instituição realizassem uma pesquisa nacional evidenciando o recorte de raças e cor sobre partos e nascimento no Brasil. O estudo “Nascer no Brasil”, analisou prontuários médicos de 23.894 mulheres coletados entre 2011 e 2012. O resultado escancarou inúmeras disparidades raciais no atendimento de mulheres grávidas. Segundo a pesquisa, mulheres negras possuem maior risco de ter um pré-natal inadequado, realizando menos consultas do que o indicado pelo Ministério da Saúde; têm maior peregrinação entre maternidades, buscando mais de um hospital no momento de internação para o parto; recebem menos analgesia quando passam por intervenções como a episiotomia, e frequentemente estão sozinhas, com ausência de acompanhante durante o parto.
Estudos como este são um indicativo sobre a necessidade de aprofundar o debate sobre o racismo na área de saúde. As desigualdades no acesso e no processo do cuidado não serão dirimidas num esforço isolado do setor da saúde, mas é essencial pensar que além das diferenças na estrutura dos serviços de saúde, como os recursos e equipamentos disponíveis, a acessibilidade geográfica e a oferta dos serviços, as atividades desenvolvidas pelos profissionais de saúde necessitam de maior equidade na atenção ofertada a mulheres negras.
Em 2006, o Ministério da Saúde criou a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que estabelece objetivos, diretrizes, estratégias e responsabilidades da gestão em todas as esferas, sejam elas municipais, estaduais ou federal, para a promoção da equidade em saúde. Apesar desta iniciativa representar um avanço, ainda há muito a ser feito na prática.
Reconhecer o racismo no sistema de saúde e abrir espaço para este debate é o primeiro passo e é fundamental.
O momento exige repensarmos nossa organização como sociedade. O racismo institucional na saúde, a desigualdade no atendimento dos profissionais da saúde à mulher negra e na negação a ela de acesso a proteção e direitos deve estar em pauta hoje e sempre.